A cárie dentária é um problema de saúde pública que atinge praticamente toda a população brasileira. Dados publicados (Ministério da Saúde, 1986) indicam que aos 12 anos, mais de 6 dentes, em média, estão atingidos pela doença. A Organização Mundial da Saúde considera como "aceitável" até 3 dentes atacados por cárie nesta idade. O aumento dramático da cárie dentária, segundo estudos epidemiológicos (Moore & Corbett, 1976; Mayhall, 1975), deve-se ao processo de urbanização e industrialização das sociedades e a conseqüente transformação dos modos de vida e trabalho, das práticas alimentares, dentre outros aspectos. No Brasil, a prática odontológica predominante ainda concentra a maioria de suas ações no campo da assistência individual, isto é, na oferta de procedimentos cirúrgico-restauradores, com base em instrumentos da clínica odontológica. As poucas ações de promoção da saúde bucal são desenvolvidas quase que exclusivamente pelo Poder Público. Apesar da comprovada eficácia e do baixo custo dos métodos preventivos quando desenvolvidos através de ações coletivas e programáticas, pouca ênfase têm sido dada, mesmo pelo Poder Público, à continuidade e extensão da cobertura dessas ações. Além disso, poucos programas com a necessária base epidemiológica vêm sendo desenvolvidos. As razões desta realidade, estão relacionadas, dentre outras causas, à formação e capacitação dos recursos humanos que tem sido direcionada mais para as ações de recuperação da saúde, situadas no 4º e 5º nível de prevenção (Leavell & Clark, 1965) do que para as ações de promoção da saúde bucal (1º e 2º níveis). Nos anos 60, dirigentes de entidades, autoridades de saúde e coordenadores de saúde bucal preconizavam a instalação de um equipamento odontológico e a fixação de um cirurgião-dentista em cada escola para prestar assistência odontológica. Era o tempo do serviço dentário escolar. Esse tipo de serviço, ao reproduzir mecânica e acriticamente o modelo da clínica privada, não conseguiu responder às necessidades epidemiológicas de saúde bucal da população escolar, pois era/é um modelo de alto custo, com enfoque curativo, de baixa cobertura e portanto, ineficaz do ponto de vista do impacto social. A partir dos anos 80, com a redemocratização do país, o aparecimento de novas lideranças e o desenvolvimento científico-tecnológico no campo da cariologia e da epidemiologia, ocorreu importante renovação da teoria e da prática da odontologia em saúde coletiva e começaram a se produzir mudanças em várias áreas, dentre elas, na atenção à saúde bucal em escolas.